Entenda as duas faces da ansiedade.
No Brasil, pelo menos dezenove milhões de seus habitantes sente-se, deitados no sofá de suas casas num pleno domingão ou em meio a agitação da rua, de uma hora para outra e como vindo do nada, excessiva sudorese nas mãos, taquicardia, falta de ar, medo de não conseguir executar determinada tarefa e, muito mais angustiante, a enlouquecedora sensação de morte. Sintam o desassossego de não se sentirem bem em nenhum local, supondo em vão que estariam bem em outro lugar. Isso é ansiedade.
Há, no entanto, uma boa notícia para os portadores dessa psicopatologia, causada pelo inadequado funcionamento da rede de neurotransmissores que compõem o cérebro (sobretudo o ácido gama aminobutírico) ou por fatores externos. Claro que a morte de um parente, o desemprego ou uma separação conjugal podem desencadear ansiedade. Mas também ela se modernizou: o uso excessivo de redes sociais, internet e celulares são dedos exteriores a apertar os gatilhos endógenos. Diante do alarme dado pela venda anual de um milhão de doses de ansiolíticos em todo o País, médicos, cientistas, universidades e instituições, seguindo o ritmo de pesquisas de países desenvolvidos, passaram a estudar cada vez mais a doença. E, agora, já se sabe que, da mesma forma que existe o bom e o ruim colesterol em nosso organismo, há igualmente uma parte da ansiedade que é saudável. Ou seja: a ansiedade tem, sim, duas faces. O vital para quem dela padece é saber jogar fora a porção negativa e ficar somente com a boa.
Efeito paralisante
Explicar que a ansiedade, até um limite, é totalmente necessária para qualquer pessoa se mover, fazer coisas, crescer profissionalmente, namorar, casar, ter filhos e tudo o mais que possa almejar na vida. Tem-se, então, que ansiedade zero não existe, é a própria morte. Ultrapassada, porém, essa fronteira, ela nos paralisa. É como se déssemos a velocidade de duzentos quilômetros por hora a um carro que só aguenta setenta. “A ansiedade nos prepara para enfrentarmos situações como, por exemplo, uma entrevista de emprego”, diz a neurologista Francine Mendonça. “Sentir ansiedade, em princípio, é uma reação fisiológica normal.
Finalmente, outra razão para que os portadores de temperamento ansioso procurem separar as duas faces desse funcionamento emocional é para evitar cair em depressão. Ansiedade e depressão caminham de mãos dadas, basta a primeira cochilar para a segunda atacar. É o que ocorreu com a atriz paranaense Franciely Freduzeski. Há cinco anos, ela começou a apresentar insônia, perda de cabelos e apetite, problemas dermatológicos e demais sintomas de que sua saúde não ia bem. Mas não associou esses eventos à questão da ansiedade. Ela tinha viajado aos Estados Unidos para estudar e morava com o filho. De repente, começou a sentir uma “sensação ruim, estava em país estranho, sozinha e com uma criança..
A culpa
A pessoa transfere para o corpo aquilo que não consegue resolver”, diz o psiquiatra Wimer Bottura Jr., presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática. “Atualmente as possibilidades de escolha na vida são tantas que se tornam uma fonte inesgotável de ansiedade”. Na verdade, desde que o mundo é mundo cada época teve o seu mal característico, e, a rigor, a ansiedade acompanha o homem desde os tempos em que ele precisava caçar para se alimentar. Talvez tenhamos herdado essa ansiedade de nossos ancestrais e ela seja o medo da morte em nosso inconsciente. Mas um coisa é fato: existe uma ansiedade moderna, com suas vantagens e desvantagens, um lado bom e um lado ruim. Não resta dúvida, portanto, que, nos valendo dos diversos métodos que podem atenuá-la, é importante coloca-lá a nosso serviço. E jamais ficarmos a sua mercê.
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