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Lembram?? Massacre de Realengo: os 10 anos do ataque a escola que deixou 12 mortos e chocou o Brasil.

Todas elas, com idades entre 13 e 15 anos, eram estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira, o bairro de Realengo, na Zona Norte do Rio.
Às 8h15 daquela quinta-feira, um ex-aluno, Wellington Menezes de Oliveira, então com 23 anos, parou diante do portão da escola, se apresentou como palestrante e entrou.

Em comemoração aos seus 40 anos, a Tasso da Silveira estava recebendo ex-alunos para falar sobre suas vidas fora do ambiente escolar. Na mochila, Wellington levava dois revólveres. Pelas duas armas, pagou R$ 1.460.

Dentro do colégio, ele pediu uma cópia de seu histórico escolar na secretaria, cumprimentou uma antiga professora de Literatura com um beijo na testa e subiu para o segundo andar, onde invadiu uma sala da 8ª série.
Ali, cerca de 40 alunos assistiam a uma aula de Português. Wellington começou a atirar. Segundo os sobreviventes, ele mirava na cabeça das meninas e no corpo dos meninos. Todos foram disparados à queima-roupa.

Enquanto recarregava as armas, o assassino invadiu uma segunda sala, em frente à primeira, e recomeçou o massacre.

Muitos alunos, ao ouvirem os tiros, saíram de suas salas e correram, assustados, para o terceiro e o quarto andares. Na fuga, muitos caíram e foram pisoteados.

Alguns professores montaram barricadas na porta de suas salas com mesas e carteiras e mandaram os estudantes para o fundo da classe.

Mesmo ferido no rosto, no ombro e em uma das mãos, Allan Mendes da Silva, de 13 anos, conseguiu escapar e pedir socorro a três PMs que faziam uma blitz a 200 metros dali.
O primeiro a chegar foi o sargento Márcio Alexandre Alves, de 38 anos. O atirador se preparava para subir para o terceiro andar quando ouviu o oficial gritar: "Larga a arma. É a polícia!".

Wellington chegou a apontar a arma em sua direção, mas não disparou. Foi atingido com um tiro de fuzil na barriga. Caído no chão, ele atirou na própria cabeça.

Em carta, o criminoso disse ter sido vítima de bullying na escola. O delegado Felipe Ettore descartou a hipótese de ele fazer parte de grupos extremistas. Para o então titular da Divisão de Homicídios (DH), Wellington agiu sozinho.

O massacre terminou por volta das 8h30, com 12 crianças mortas e outras 12 feridas.
Para sobreviver à morte de sua caçula, Adriana fundou a associação Os Anjos de Realengo, que reúne familiares das vítimas da tragédia. Também lançou um livro, Meu Anjo Luiza (2016), e passou a dar palestras sobre prevenção de violência nas escolas para pais e alunos.

"O bullying é um monstro que precisa ser enfrentado. Ele existe, é real e vive dentro de nossas escolas. O Massacre de Realengo não pode cair no esquecimento. Lembrar é reagir. Esquecer é permitir", diz ela.

Em 2015, um memorial com esculturas em bronze de onze das doze crianças mortas foi inaugurado bem ao lado da Tasso da Silveira. A família de uma das vítimas não permitiu que sua imagem fosse reproduzida.
Segunda chance
O Massacre de Realengo marcou a vida não somente de quem estudava na Tasso da Silveira ou de quem tinha filhos matriculados lá, mas, também, de quem cobriu a tragédia.

A repórter Daniela Kopsch, que trabalhava na revista Capricho, foi uma das dezenas de jornalistas mandadas ao local. Ao chegar, se deparou com inúmeros profissionais — de médicos a policiais — segurando o choro.

"Naquela manhã, como todo mundo, fui pega de surpresa. Ninguém acreditava que aquilo pudesse ter acontecido. Foi um trauma coletivo", recorda a jornalista, hoje com 34 anos.

Em 2019, Daniela resolveu tornar o que viu, ouviu e apurou no livro de ficção, O Pior Dia de Todos. Duas das muitas sobreviventes, Larissa e Liliane, foram transformadas em personagens, Malu e Natália.

As duas estudantes aproveitaram o momento em que o atirador recarregou as armas para fugirem, de mãos dadas. Encontraram abrigo na casa de uma vizinha, onde se esconderam debaixo da cama.

"Acesso a armas, culto à violência, misoginia e cultura do feminicídio. Esses foram os elementos que tornaram possível o Massacre de Realengo. Apesar de doloroso, não podemos esquecê-lo", avisa Daniela.

Fonte de inspiração para uma das protagonistas do livro, Liliane Santos, hoje com 23 anos, ganhou uma cópia de presente da autora quando participou de um ato ecumênico na Tasso da Silveira em abril de 2019.
Atualmente, ela estuda Enfermagem e trabalha em um escritório de Direito. Nas horas vagas, gosta de ler, fazer trabalhos voluntários e viajar.
Feminicídio em massa
Se depender do jornalista Vagner Fernandes e da cineasta Bianca Lenti, o Massacre de Realengo não será esquecido. Os dois trabalham em projetos para manter viva a memória das doze crianças assassinadas.

Fernandes está escrevendo o livro O Massacre de Realengo: A Tragédia que Abalou o Brasil, previsto para ser publicado no segundo semestre, e Bianca aguarda a liberação dos recursos para a série documental As Meninas de Realengo, com previsão de estreia para 2022.

"O que acontece dentro de um colégio público não é responsabilidade apenas de professores, coordenadores acadêmicos e diretores. Mas, de um Estado que não se compromete e não oferece os instrumentos necessários para que esses profissionais auxiliem os alunos na construção da cidadania", afirma Fernandes.

Para ela, o atirador de Realengo é um dos primeiros exemplos de "incels" ("celibatários involuntários") conhecidos no Brasil. O termo faz alusão aos jovens que têm dificuldade de socialização com o sexo oposto e direcionam às mulheres discursos violentos de ódio.
Tão importante quanto investir na criação de protocolos de segurança, diz, é estimular a formação de docentes e gestores como mediadores de conflitos.

"É importante construir uma convivência pacífica dentro do ambiente escolar. Mas, se houver conflitos, que eles sejam resolvidos na base do diálogo, de maneira saudável e respeitosa. O que não podemos permitir é que outros massacres se repitam no Brasil. Realengo, nunca mais!"

Por Betonews fonte, BBC notícias.

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