Breaking News

Saudades das cartas



Em 1987, quando vim morar em Aracaju, comecei a escrever cartas. Era uma forma de aplacar a falta que sentia de Alagoinhas, especialmente dos amigos e familiares. Telefonar de longe tinha um custo considerável, além de enfrentar uma fila, geralmente. Nas cartas contava parte importante do que acontecia comigo. Aquilo que ocorria de bom e certos incômodos. Narrar nossas inquietações já ajuda na superação delas. 

Um amigo de infância encontrou uma carta antiga que escrevi pra ele e me mostrou. Minha irmã também achou uma carta que um querido primo mandou de Viçosa pra mim há 25 anos. 

Eu gostava muito de receber cartas, ficava contente quando as recebia, lia imediatamente. Lembro que havia uma certa cobrança, alguém(e eu inclusive)dizendo:  "escreva pra mim". O problema é que você tinha  que colocar no correio e levava um tempo. Eu soube na época que as cartas que eu enviava de Aracaju para Alagoinhas iam primeiro para Salvador, então levavam quatro dias para chegar. Se houvesse um feriado no meio da semana, podia levar sete ou oito dias. E quantas coisas poderiam acontecer em oito dias! Certas pessoas tinham receio de escrever cartas. Tanto que começavam o texto  pedindo(diretamente ou não)desculpas. "Escrevo essas mal traçadas linhas..." , era uma expressão bastante usada. Um querido amigo certa vez pediu ajuda a alguns dos nossos amigos em comum para escrever pra mim. Eles acharam engraçado e me contaram que ao iniciar cada frase ele dizia:  "Olha Marcone". E ficava repetindo, repetindo, o "Olha Marcone". Até hoje minha mãe fala pra mim, brincando: "Olha Marcone". Mas o fato é que eu fiquei contente em saber que meu amigo brigou com as suas dificuldades de escrever para me presentear com a sua carta. Era assim que eu recebia as cartas, como presentes. Eu escrevia para pessoas próximas. E queria ser motivo de atenção e de um certo esforço por parte de alguém que lembrasse de mim e me mandasse seu carinho e sua consideração em forma de uma carta.


Por Beto News. Fonte Marcone Borges


Nenhum comentário